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O grande desperdício de lúpulo escondido na produção e sua solução

Você sabia que, para cada 1 quilo de lúpulo utilizado na produção de cerveja, cerca de 3,5 quilos de biomassa viram desperdício? É um número impressionante, mas também alarmante. E o que fazer com essa montanha de resíduos? Bem, dois estudantes da Universidade Técnica de Munique, enquanto saboreavam uma cerveja em 2022, resolveram atacar esse problema de frente.

Assim nasceu a HopfON, uma startup que transforma restos de lúpulo em materiais inovadores para a indústria da construção. Mas a história não para por aí: grupos como a Sociedade de Pesquisa de Lúpulo também estão trabalhando para mudar o jogo, desenvolvendo variedades de lúpulo mais eficientes e sustentáveis.

Um problema maior do que parece

Na região de Hallertau, na Alemanha — a maior produtora de lúpulo do mundo —, a cada outono, toneladas de folhas, espinhos e videiras são descartadas. Apesar de parte desse resíduo ser transformada em fertilizantes ou energia em usinas de biogás, a maior parte acaba acumulada em terras alugadas pelos agricultores. Essas pilhas não só fermentam, liberando gases de efeito estufa, como também podem pegar fogo. Um problema e tanto para os produtores e para o planeta.

A Solução Criativa da HopfON

Mauricio Fleischer Acuña, um dos fundadores da HopfON, viu nesse resíduo uma oportunidade. Com um processo inovador, a startup transforma a biomassa descartada em produtos como painéis acústicos, placas de construção e materiais de isolamento térmico. O segredo? Um processo patenteado que utiliza os agentes de ligação naturais da planta. Além disso, a HopfON implementou um modelo circular, permitindo que os clientes devolvam os produtos usados para serem reciclados e transformados novamente.

Um exemplo prático do sucesso da iniciativa é o espaço de coworking em Mannheim, que adotou os painéis acústicos da HopfON. E não para por aí: o futuro reserva projetos como alternativas ao drywall tradicional.

Mas a HopfON não quer parar no lúpulo. A ideia é expandir para outros materiais orgânicos e, eventualmente, mudar o nome da empresa para “onmatter”, refletindo sua missão mais ampla.

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Inovação no Lúpulo Desde a Raiz

Enquanto a HopfON transforma resíduos em soluções, a Sociedade de Pesquisa de Lúpulo em Hüll trabalha em uma frente diferente: a criação de variedades de lúpulo que produzem menos desperdício. Segundo Walter König, diretor administrativo da instituição, essas novas plantas reduzem a proporção de resíduo para cerca de 1,2 a 1,4 quilo para cada quilo de lúpulo utilizável. E tudo isso sem comprometer o sabor único que os amantes de cerveja tanto valorizam.

“É um trabalho complexo unir sustentabilidade e qualidade sensorial, mas os resultados mostram que é possível manter o aroma e o sabor tradicionais enquanto enfrentamos os desafios ambientais”, explica König.

Um Olhar Para o Futuro do Lúpulo

Essas iniciativas não são apenas boas ideias; elas representam soluções tangíveis para problemas reais. Com o apoio de projetos de pesquisa financiados pelo governo alemão e pela União Europeia, tanto startups como a HopfON quanto instituições tradicionais estão criando um ecossistema mais verde para a indústria da cerveja.

Mas o caminho ainda é longo. Transformar uma indústria tão tradicional e consolidada exige tempo, investimentos e, acima de tudo, vontade de mudar. Se depender desses grupos alemães, o futuro das cervejas — e do planeta — pode ser muito mais promissor. Afinal, quem disse que tradição e inovação não podem brindar juntas?

Rodrigo Peronti

Rodrigo Peronti

Jornalista desde 2012, especializado em Comunicação e Semiótica. Já atuou em grandes veículos de comunicação do Brasil e se dedica ao estudo e divulgação do lúpulo no Brasil.

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