Startup transforma resíduos do lúpulo em materiais de construção para reduzir desperdício
Uma startup alemã quer transformar um problema ambiental em solução. A HopfON, fundada por estudantes da Universidade Técnica de Munique, está reutilizando resíduos do lúpulo – amplamente usado na produção de cerveja – para criar materiais de construção. A ideia não só reduz o desperdício, mas também ajuda a combater as emissões de gases de efeito estufa.
O projeto nasceu em 2022, em uma conversa casual entre os fundadores. Inspirados pelo uso de fibras de banana na Colômbia para fabricar materiais sustentáveis, os estudantes decidiram adaptar a ideia para a Alemanha, que é líder mundial na produção de lúpulo. O resultado foi a HopfON, cujo nome deriva da palavra alemã “hopfen”, que significa lúpulo.
O problema do desperdício de lúpulo
A produção de lúpulo gera muito resíduo. Na região de Hallertau, maior produtora mundial do ingrediente, apenas 20% da planta é aproveitada na fabricação de cerveja. Os outros 80% – folhas, caules e cipós – são descartados. Para cada quilo de lúpulo usado, cerca de 3,5 quilos de biomassa acabam como lixo.
Parte desse material é reaproveitada como fertilizante ou em usinas de biogás. Mas a maioria é inútil para os agricultores. Isso gera custos adicionais, pois os resíduos precisam ser descartados de forma adequada. Em alguns casos, esses materiais podem fermentar, liberar gases de efeito estufa e até causar incêndios.
Uma solução inovadora com o lúpulo
A HopfON viu nesse resíduo uma oportunidade. A startup desenvolveu um processo patenteado para transformar os restos do lúpulo em produtos como painéis acústicos, isolantes térmicos e outros materiais de construção. O objetivo é oferecer alternativas sustentáveis à construção tradicional, que é responsável por mais de um terço de todo o lixo produzido na União Europeia.
O processo é simples, mas eficiente. Durante a colheita, o material é recolhido diretamente nas fazendas e seco imediatamente. Depois, passa por uma triagem para remover impurezas e metais recicláveis. Em seguida, é triturado e transformado em novos produtos usando os próprios agentes naturais da planta como ligantes.
Um espaço de coworking em Mannheim foi o primeiro cliente da HopfON, utilizando os painéis acústicos da startup. Agora, a empresa está desenvolvendo alternativas às placas de gesso, ampliando ainda mais seu portfólio.
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Economia circular e sustentabilidade
Além de reutilizar resíduos, a HopfON aposta em um modelo de economia circular. Os clientes podem devolver os produtos usados para que sejam reciclados e transformados em novos materiais. Isso reduz ainda mais o impacto ambiental e reforça o compromisso da startup com a sustentabilidade.
A empresa não está sozinha na busca por soluções inovadoras. O Centro de Pesquisa do Lúpulo, também na Alemanha, está desenvolvendo novas variedades de lúpulo que produzem menos resíduos. Essas variedades geram apenas 1,2 a 1,4 quilos de biomassa para cada quilo de cones de lúpulo, quase metade da quantidade atual.
Segundo Walter König, diretor-geral do centro, o desafio é manter a qualidade dos cones de lúpulo, preservando o aroma e o sabor que cervejeiros e consumidores valorizam. Mas os resultados até agora são promissores.
Um impacto do lúpulo além da construção
O uso dos resíduos do lúpulo vai além de resolver problemas ambientais. Ele também cria novas oportunidades econômicas, tanto para agricultores quanto para indústrias locais. O que antes era considerado lixo agora é uma matéria-prima valiosa, gerando renda e reduzindo a dependência de recursos não renováveis.
Com planos de expansão, a HopfON pretende incluir outros materiais orgânicos em seus projetos. A startup está apenas no começo, mas já mostra que a inovação pode transformar desafios ambientais em soluções práticas e sustentáveis.
O desperdício, antes ignorado, está ganhando um novo propósito. Enquanto a indústria cervejeira continua a produzir, startups como a HopfON provam que cada resíduo pode ter um futuro – desde que haja criatividade e vontade de mudar.