Lúpulo do Brasil é “cheio” de Cohumulona, sabia? Veja o que é
O lúpulo brasileiro tem chamado a atenção de especialistas por apresentar altos níveis de cohumulona. Mas o que essa substância significa para a produção de cervejas? Para entender, é importante mergulhar no papel que ela desempenha no amargor e na composição das bebidas.
A cohumulona é um tipo de alfa-ácido, uma das substâncias presentes nas resinas do lúpulo, essenciais para o amargor da cerveja. Junto com outros congêneres, como humulona e adhumulona, ela participa do processo químico que resulta nos iso-alfa-ácidos, os compostos que dão aquele amargor característico.
No Brasil, variedades como Cascade, Chinook e Saaz apresentam níveis de cohumulona considerados médio-altos, com valores em torno de 35% a 40%. Já o lúpulo Comet, também cultivado no país, pode ultrapassar esses índices. Mas o que isso muda para quem produz ou consome cervejas artesanais?
Amargor mais intenso ao lúpulo
A cohumulona gera debates acalorados no meio cervejeiro. Muitos acreditam que iso-cohumulona, sua forma derivada, produz um amargor mais agressivo. Por isso, lúpulos com altos níveis dessa substância são, em geral, usados no início do processo de fervura, onde a principal intenção é criar amargor.
No entanto, essa ideia não é unanimidade. Enquanto alguns especialistas defendem que altos níveis de cohumulona resultam em um amargor menos refinado, outros afirmam que essa relação é mais mito do que ciência. O amargor da cerveja não depende apenas desse componente, mas também de outros fatores, como os óleos essenciais e os polifenóis presentes no lúpulo.
Como usar lúpulos ricos em cohumulona?
Embora existam dúvidas sobre a influência direta da cohumulona, produtores experientes encontram formas criativas de aproveitar suas características. Lúpulos com altos índices podem ser usados em cervejas de alta densidade, as chamadas Big Beers. Nessas receitas, o amargor mais intenso se equilibra com o corpo robusto da bebida.
Além disso, a seleção do lúpulo é apenas uma parte do processo. Métodos como late hopping e dry hopping, que consistem em adicionar o lúpulo em estágios mais avançados da produção, ajudam a ajustar o perfil sensorial da cerveja, independentemente do nível de cohumulona.
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Uma questão de percepção
Apesar dos avanços na análise dos compostos do lúpulo, a percepção do amargor ainda é subjetiva. Isso explica porque há divergências entre os especialistas. Estudos apontam que outros elementos do lúpulo podem suavizar ou intensificar o amargor, mesmo quando a cohumulona está presente em altos níveis.
O mercado, por sua vez, parece dividir opiniões. Lúpulos com níveis mais baixos de cohumulona são frequentemente preferidos para estilos que priorizam sabores e aromas delicados. Já os ricos nesse composto, embora menos utilizados, têm potencial quando bem aproveitados.
E o futuro do lúpulo brasileiro?
O destaque dos lúpulos nacionais com altos níveis de cohumulona pode abrir novas possibilidades para os produtores. A variedade genética e as condições climáticas do Brasil criam um terreno fértil para inovações. Mas, para isso, é essencial que os cervejeiros compreendam melhor as propriedades desses lúpulos e saibam explorá-los de maneira estratégica.
A cohumulona, apesar de sua fama controversa, é uma peça-chave no quebra-cabeça químico da cerveja. Compreender suas características e como elas interagem com outros compostos pode transformar sua percepção de um possível “vilão” para um recurso valioso na criação de bebidas únicas.
Em resumo, o lúpulo brasileiro, rico em cohumulona, apresenta desafios, mas também oportunidades. O futuro desse ingrediente no mercado depende de pesquisas, técnicas e, acima de tudo, criatividade dos cervejeiros. Afinal, o que importa é o equilíbrio entre ciência, arte e sabor no copo do consumidor.