InovaçãoNotícias

Óleo do lúpulo pode melhorar cheiro de cervejas artesanais

O uso do óleo essencial de lúpulo para melhorar o aroma das cervejas artesanais é o foco de um estudo inovador no Espírito Santo. A pesquisa, conduzida por Mila Marques Gamba, doutora em Ciência de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto teve supervisão de Suzana Maria Della Lucia, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Nos últimos anos, o mercado de cervejas artesanais cresceu significativamente no Espírito Santo. Esse crescimento impulsionou a criação de uma rota turística na Região Serrana, que atrai consumidores interessados em experiências sensoriais únicas. O estudo de Mila Marques buscou justamente aprimorar essas experiências, com foco nas características de aroma e sabor das bebidas.

O desafio do aroma nas cervejas artesanais

O lúpulo é um dos ingredientes principais na produção de cervejas, conferindo amargor e aroma característicos. Porém, há um problema: enquanto as resinas responsáveis pelo amargor se fixam em altas temperaturas, os óleos essenciais que garantem o aroma podem se degradar ou evaporar no mesmo processo. Isso dificulta a combinação ideal entre sabor e cheiro.

A pesquisa de Mila propôs a adição do óleo essencial de lúpulo no final do processo de produção, após o resfriamento da bebida. Essa estratégia permite preservar melhor os compostos voláteis responsáveis pelo aroma, sem comprometer outras características da cerveja.

Resultados promissores

Os testes incluíram centenas de consumidores e mostraram que uma pequena quantidade de óleo essencial – cerca de 0,0025 ml – foi suficiente para melhorar o aroma e intensificar o sabor da cerveja artesanal do tipo americana IPA. Essa concentração não alterou as propriedades físico-químicas da bebida, garantindo sua qualidade geral.

Além disso, a pesquisa mostrou que fatores como embalagem e comunicação influenciam diretamente na percepção do consumidor. Cervejas com rótulos bem elaborados e informações claras sobre o produto tiveram maior aceitação no mercado.

Veja também:

Potencial de inovação

Outro ponto destacado pela pesquisadora foi a possibilidade de diversificar os produtos. Com uma única base de cerveja, diferentes concentrações ou tipos de óleos essenciais podem ser adicionados para criar variedades com perfis sensoriais únicos. Isso amplia o potencial de inovação para as cervejarias artesanais.

Os resultados da pesquisa foram apresentados em um simpósio internacional, o Slacan, onde foram divulgados três resumos científicos. O evento reforçou o impacto positivo do estudo e as possibilidades de aplicação prática no mercado.

Custo e viabilidade

Apesar dos resultados promissores, o custo do óleo essencial de lúpulo ainda é um desafio. A produção é cara e depende de um único fornecedor no Brasil, o que encarece o processo. No entanto, Mila acredita que o mercado consumidor está disposto a pagar mais por um produto diferenciado. O “boom” das cervejas artesanais, especialmente no Espírito Santo, é um indicativo disso.

A região já conta com diversas cervejarias artesanais, localizadas na Serra, no Caparaó e na Grande Vitória. Os consumidores dessas áreas buscam experiências únicas e estão abertos a inovações que valorizem as características sensoriais das bebidas.

A pesquisa foi financiada por meio do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (PDCTR), que oferece bolsas para pesquisadores doutores desenvolverem projetos em suas regiões. O edital de 2019, que viabilizou o estudo, destinou cerca de R$ 11 milhões para 23 projetos no Espírito Santo, fortalecendo a produção científica e tecnológica local.

O estudo de Mila Marques Gamba representa um avanço significativo para o setor de cervejas artesanais. Além de aprimorar o produto, a pesquisa promove inovação, valoriza o mercado local e destaca a importância do apoio à ciência no desenvolvimento econômico e cultural da região.

Rodrigo Peronti

Rodrigo Peronti

Jornalista desde 2012, especializado em Comunicação e Semiótica. Já atuou em grandes veículos de comunicação do Brasil e se dedica ao estudo e divulgação do lúpulo no Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *